quinta-feira, 22 de julho de 2010

O Bruxo e o Caldeirão Saltitante

Era uma vez um velho bruxo muito bondoso que usava a magia com generosidade e sabedoria para beneficiar seus vizinhos. Em vez de revelar a ver­dadeira fonte do seu poder, ele fingia que suas po­ções, amuletos e antídotos saíam prontos de um pequeno caldeirão a que ele chamava de sua panelinha da sorte. De muitos quilômetros ao redor, as pessoas vinham lhe trazer seus problemas, e o bruxo, prazerosamente, dava uma mexida na pa­nelinha e resolvia tudo. Esse bruxo muito querido viveu até uma idade avançada e, ao morrer, deixou todos os seus bens para o único filho. O rapaz, porém, tinha uma natu­reza bem diferente da do bom pai. Na sua opinião, quem não sabia fazer mágicas não valia nada, e ele muitas vezes discordara do hábito que o pai tinha de ajudar os vizinhos com sua magia.Quando o velho morreu, o jovem encontrou escondido no fundo da velha panela um embrulhinho com o seu nome. Abriu-o na expectati­va de ver ouro, mas, em lugar disso, encontrou uma pantufa grossa e macia, pequena demais para ele e sem par. Dentro dela, um pedaço de pergaminho trazia a seguinte frase: "Afetuosamente, meu filho, na esperança de que você jamais precise usá-la.O filho amaldiçoou a caduquice do pai e atirou a pantufa no caldeirão, decidindo que passaria a usá-lo como lixeira.

Naquela mesma noite, uma camponesa bateu à porta da casa.

Minha neta apareceu com uma infestação de verrugas, meu senhor. O seu pai costumava preparar um cataplasma especial naquela panela velha...

Fora daqui! — exclamou o filho. — Que me importam as verrugas da sua pirralha?

E bateu a porta na cara da velha.

Na mesma hora, ele ouviu clangores e rumores que vinham da cozinha. O bruxo acendeu sua vari­nha e abriu a porta, e ali, para seu espanto, viu que brotara um pé de latão na velha panela do pai, e o objeto pulava no meio da cozinha fazendo uma zoada assustadora no piso de pedra. O bruxo se aproximou admirado, mas recuou ligeiro quando viu que a superfície da panela estava inteiramente coberta de verrugas.

— Objeto nojento! — exclamou ele, e, com fei­tiços, tentou primeiro fazer desaparecer o caldei­rão, depois limpá-lo e, por fim, expulsá-lo de casa. Nenhum dos feitiços, porém, fez efeito, e ele não pôde impedir o caldeirão de segui-lo saltitante para fora da cozinha, e depois subir com ele para o quar­to, alternando batidas surdas e estridentes a cada degrau da escada de madeira.

O bruxo não conseguiu dormir a noite toda por causa das batidas da velha panela verrugosa ao lado de sua cama, e, na manhã seguinte, a panela insistiu em acompanhá-lo, aos saltos, à mesa do café-da-manhã. Plem, plem, plem fazia o pé de latão, e o bruxo ainda nem começara o seu mingau de aveia quando ouviu outra batida na porta. Havia um velho parado na soleira.


É a minha velha jumenta, meu senhor — explicou ele. — Perdeu-se ou foi roubada, e sem ela não possuo levar os meus produtos ao mercado e minha família passará fome hoje à noite.

Com fome estou eu agora! — bradou o bruxo, e bateu a porta na cara do velho.

Plem, plem, plem fez o caldeirão no chão com aque­le seu único pé de latão, mas agora o estrépito se misturava aos zurros de um jumento e aos gemidos humanos de fome que vinham de suas profundezas.

— Pare! Silêncio! — guinchou o bruxo, mas todos os seus poderes mágicos não conseguiram calar a panela verrugosa, que o seguiu saltitando o dia todo, zurrando e gemendo e clangorando, aonde quer que ele fosse ou o que quer que fizesse.

Naquela noite ouviu-se uma terceira batida na porta, e ali, na soleira, estava parada uma jovem mulher soluçando como se o seu coração fosse par­tir de dor.

— O meu filhinho está gravemente doente — dis­se ela. — Por favor, pode nos ajudar? Seu pai me disse para vir se tivesse algum pro...

Mas o bruxo bateu a porta na cara da jovem.

E agora a panela atormentadora se encheu até a borda de água salgada e derramou lágrimas por todo o chão enquanto pulava, zurrava, gemia e fa­zia brotar ainda mais lágrimas.

Embora, pelo resto da semana, nenhum outro aldeão tivesse vindo à cabana do bruxo buscar aju­da, a panela o manteve informado dos seus muitos males. Em poucos dias ela não estava apenas zur­rando, gemendo, transbordando, pulando e bro­tando verrugas, mas também engasgando e tendo ânsias de vômito, chorando como um bebê, ga­nindo feito um cão e cuspindo queijo estragado, leite azedo e uma praga de lesmas vorazes.

O bruxo não conseguia dormir nem comer com a panela ao seu lado, mas ela se recusava a sumir dali, e ele não podia silenciar nem forçar o caldei­rão a parar.

Por fim, não aguentou mais.

— Tragam-me todos os seus problemas, todas as suas preocupações e todas as suas tristezas! — gri­tou, fugindo noite adentro, com a panela perseguindo-o aos saltos pela estrada que levava à aldeia. — Venham! Deixem que eu cure vocês, re­cupere vocês e console vocês! Tenho a panela do meu pai e vou remediar tudo!

E, com a detestável panela ainda a persegui-lo saltitante, ele correu pela rua principal lançando feitiços para todos os lados.

Dentro de uma casa, as verrugas da garotinha desapareceram enquanto ela dormia; a jumenta perdida foi trazida de um urzal distante e suave­mente deixada em seu estábulo; o bebê doente foi umedecido com ditamno e acordou bom e rosado. Em todas as casas em que havia doença e tristeza, o bruxo fez o melhor que pôde, e gradualmente a panela ao seu lado parou de gemer e ter ânsias de vômito, e sossegou, reluzente e limpa.

- E então Panela? — perguntou o bruxo trêmu­lo, quando o sol começou a despontarA panela arrotou o pé de pantufa que ele haviajogado em seu fundo, e permitiu que o bruxo ocalçasse em seu pé de latão. Juntos, eles regressa ram à casa, os passos da panela finalmente abafados. Mas, daquele dia em diante, o bruxo passou a ajudar os aldeões exatamente como fazia seu pai, antes dele, para que a panela não descalçassea pantufa e recomeçasse a saltitar.

Comentários de Alvo Dumbledore sobre "O bruxo e o caldeirão saltitante".

"O bruxo e o caldeirão saltitante" Um velho bruxo generoso resolve dar uma lição ao filho insensível, apresentando-lhe uma amostra do sofrimento dos trouxas locais. Desperta assim a cons­ciência do jovem mago, que concorda em usar sua magia em benefício dos vizinhos não-mágicos. A pri­meira vista, uma fábula simples e comovente, ao crer nisso, a pessoa se revelaria uma pobre inocente. Uma história pró-trouxas, retratando um pai que ama os trouxas e é superior em magia a um filho que os detes­ta? É no mínimo surpreendente que qualquer cópia da versão original desse conto tenha sobrevivido às chamas a que frequentemente foi lançada.

Beedle estava fora de sintonia com seu tempo ao pregar uma mensagem de amor fraternal aos amigos trouxas

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